SAGRADA ESCRITURA

Iniciação à Sagrada Escritura

Créditos ao Curso Bíblico de D. Estevão Bettecourt OSB

Inspiração Bíblica                                                           

                                              

Aqui podemos já ter uma idéia da simplicidade e da complexidade da bíblia. Ela não quer ser um tratado de ciências naturais, um tratado de história natural de Israel. Nem mesmo um livro de histórias de grandes homens, de grandes mulheres e de grandes feitos.
A bíblia tem uma inspiração estritamente religiosa e todos os versículos da bíblia devem ser encarados como tal. Mesmo aqueles que contam histórias de pessoas e de seus feitos. Ela quer ensinar aquilo que ultrapassa a razão humana, quer revelar o plano de salvação para você. Quer te mostrar que tudo tem um sentido, um para que.
Esse aspecto em termos mais técnicos se chama de Noção, ou seja, tem se a noção da mensagem da bíblia.
Todas as paginas da bíblia, todos os seus versículos são inspirados por Deus. Isso se chama de Extensão. Algumas partes são inspirações diretas, e outras inspirações indiretas. Como é isso? Para a bíblia ser escrita ela precisou de meio, ou seja, de alguém. Esse alguém vivia em um contexto, vivia numa cultura, vivia num período histórico. E para quem foi escrito também. Para ser mais bem entendida, se utilizava da linguagem humana, da cultura de sua região.
Por isso vemos dizer que o mundo foi feito em seis dias, o sol parou no céu. Aqui não podemos ver com olhar científico, mas sim a intencionalidade do texto, a extensão desse texto. Notamos em alguns textos um linguajar que está acima do contexto histórico, e outros que para mostrar a mensagem recorre a recursos humanos. Veja em Gen 1,1-4; Heb 8, 13; Gal 3, 16. Se você já lê a bíblia a um tempo nota essa extensão com mais facilidade.
Vale acrescentar que somente as palavras nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego) foram assim iluminadas. As traduções não gozam do carisma da inspiração divina na mesma extensão da bíblia. Podem ser até muito esclarecedoras, muito fortes. Porém, todo termo dever fundamentado no original, senão perde esse carisma de inspiração divina e passa a ter um sentido apenas cientifico.
Desse modo a bíblia é veraz:
1-    É isento de erro ou veraz tudo aquilo que o autor sagrado (hagiógrafo) afirma como tal
O autor pode afirmar algo em seu nome ou em nome de alguém. Exemplo: em Jo 1, 18 o Evangelista afirma que Jesus nos revelou Deus Pai. Mas no Sl 53(52), 2 se lê que “Deus não existe”. Há aí uma contradição? Não. Pois em Jo 1, 18 o  autor é quem afirma como tal, e no Sl 53(52), 2 o autor afirma (com veracidade) que o insensato diz isso. Portanto, não há nisso contradição. Ambas são verazes e inspiradas por Deus.

2-   No sentido que o hagiógrafo o entendeu
Aqui vale dizer que primeiro temos que notar que gênero literário ele utilizou, partindo daí temos que ter consciência que essa pessoa tinha uma cultura, uma linguagem. Se leio um midraxe (historia edificante) como o livro de Tobias, tenho que ter a noção que Deus o inspirou para mostrar a ação de Deus em nossas vidas através de uma história.
Se leio o Cântico dos Cânticos tenho que ter a noção de que estou lendo um poema, e como poema tem sua construção própria, com figuras desse gênero.
Assim, toda a bíblia é veraz, pois Deus através dos diversos gêneros literários da bíblia (assunto do próximo post) inspira o autor a revelar a você Seu plano de amor e Salvação.


    

 Cânon Bíblico

                                      

Notemos os termos muito utilizados em estudos sérios da bíblia:
1 Cânon, do grego kanón = regra, medida – catálogo.
2 Canônico = livro catalogado – o que implica que seja inspirado
3 Protocanônico = livro catalogado, próton, isto é, sempre catalogado.
4 Deutorocanônico = livro catalogado posteriormente
5 Apócrifo = do grego apokryphon = livro não catalogado para ser lido em assembléia, mas lido em leitura particular para edificação pessoal.
Para muitos os apócrifos é tido como leituras que devem ser evitadas, mas a intencionalidade de um apócrifo é mais para edificar do que para doutrinar. Por isso a Igreja não proíbe os fiéis a lerem evangelhos como os de Tiago, Tomé entre outros, pois apesar de não serem tido como livros inspirados por Deus têm como objetivo edificar o leitor para a vida com Deus.

Historia do Cânon do Primeiro Testamento


As passagens bíblicas começaram a ser escritas esporadicamente desde os tempos anteriores a Moises; isto é de notar pois escrever não era somente muito raro, mas muito dispendioso para a época.
Moises codificou vários desses escritos espalhados num volume  para facilitar o ensino dos sacerdotes ao povo.
Mas o Primeiro Testamento se completou, ou melhor, foi compilado depois do exílio da Babilônia.
Nos primeiros séculos de nossa era surge o cristianismo que começou a se alastrar nos meios judaicos. Utilizando os escritos da Torá para demonstrar que Jesus de Nazaré era realmente o Cristo, o Messias esperado. Os Escribas para por uma barreira na doutrina cristã reuniu-se por volta do ano 100 d.c na cidade de Jâmnia ou Jabnes e estabeleceu que para que fosse considerado inspirado era preciso:
1-    O livro sagrado não pode ter sido escrito fora da terra de Israel;
2-    ... não em língua aramaica ou grega, somente em hebraico;
3-    ... não depois de Esdras (458 – 426 AC);
4-    ... não em contradição com a Torá ou lei de Moises.
Com isso alguns livros não preenchia esses requisitos, por exemplo o evangelho de Mateus em aramaico (será visto mais adiante) e 7 livros do Primeiro Testamento a saber: Judite, Tobias, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, l e ll Macabeus. Além de algumas partes de Ester e de Daniel.
Entretanto, esses livros continuaram sendo lidos pelos rabinos e ensinados, mas como edificantes. Os Apóstolos continuaram a utilizar o Cânon grego, isso se verifica pelos termos gregos que estão por todo o evangelho vera em Mt 1, 23 (- Is 7, 14) esse termo é tipicamente grego. E ainda em Heb 10, 5 (- Sl 39/40, 7), Heb 10, 37 (Hab 2, 3s), At 15, 16s (- Am (9, 11s).
Olhando atentamente no Segundo Testamento veremos citações implícitas dos livros Deutorocanonicos, livros rejeitados em Jâmnia. Exemplos:
Rom 1, 19 -32 = Sab 13, 1-9; Rom 13, 1 = Sab 6, 3; Mt 27, 43 = Sab 2, 13.18; Tig 1, 19; = Eclo 5, 11; Mt 11, 29s = Eclo 51, 23 -30; Heb 11, 34s = 2Mac 6, 18-7, 42; Apoc 8, 2 = Tb 12, 15.
Com isso vemos que não foi invenção da nossa Igreja. Na patrística são citados até como escritura sagrada. Como Clemente Romano (95 dc), na epístola aos Coríntios, recorre a Jud, Sab, fragmentos de Dan. Hermas em 140, faz amplo uso de Eclo e do 2Mac; Hipólito (+235) comenta o livro de Daniel com os fragmentos deutorocanonicos citando também Sab, Baruc e Tobias e ainda os dois livros dos Macabeus.
Martinho Lutero traduziu para o alemão inclusive esses livros que hoje falta nas bíblias protestantes. Pensar que o Concílio de Trento introduziu tais livros na bíblica católica é pensar erroneamente, pois o Concilio de Trento não acrescentou nada a bíblia.


Historia do Cânon do Segundo Testamento                                             



O catálogo do Segundo Testamento também foi objeto de dúvidas na Igreja antiga.
Hebreus: A carta não indica destinatários nem autor. Os orientais tinham-na como paulina, já os latinos não. Hoje, é unânime em dizer que a carta aos Hebreus não é paulina, talvez um discípulo de Paulo.
Apocalipse: nos primeiros séculos discutia-se se realmente era de João, mas apartir do século IV foi reconhecida como de João e também como canônico.
Tiago: Também foi discutida a autoria dessa epistola, pois parece contradizer a São Paulo em Rom e Gal; a fé sem obras seria morta. Mas enfim percebeu que essa contradição é apenas aparente, pois ao passo que São Paulo afirma que a fé basta para entrarmos em amizade com Deus, São Tiago afirma que para permanecer nessa amizade é preciso obras.
Judas: Também foi discutida a autoria. Ademais recorre freqüentemente a apócrifos judaicos, mas enfim permaneceu, pois também São Paulo recorre a apócrifos judaicos.
Com isso percebemos que toda a historia da canonicidade da bíblia não foi um golpe de caneta que o decidiu, mas sim um profundo estudo, e mais do que isso, a assistência do Espírito Santo que fez com que fosse compilada a bíblia da maneira como a temos hoje. Por isso a valorize, não é um livro qualquer.

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